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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

1# Maromba do dia-a-dia: Naturalidade = Ritmo?




Você, que não é coveiro, mas está doido pra "pegar um corpo", já parou pra pensar nos exercícios que se faz, diariamente, sem ao menos sair de casa? Você, que não é um Arnold Schwarzenegger, mas treina com frequência, já refletiu sobre no que consiste a ideia de "treino" e por quê diabos você está se propondo a praticá-los?

Meu papel aqui será tentar fazer você olhar ao seu redor e perceber que é possível praticar inúmeras atividades físicas simples, bastando para isso, encontrar seu ritmo.


"Impossível treinar aqui, Thiago! Meu quarto não tem nada, eu sou desengonçado e desisto fácil!"


Péssimo, você já começou errado, pequeno gafanhoto. Em primeiro lugar, risque "impossível" do seu dicionário, assim como "desistir" e "desistência", e nunca mais repita que algo é impossível sem antes, tentar. Lembre-se, você é um guerreiro que não depende da espada para lutar, apenas da vontade. Em seguida, agradeça por seu quarto não ter nada. Quer melhor lugar pra criar seu próprio Centro de Treinamento? Três ou quatro metros quadrados, uma hora do seu dia, paciência e disciplina é tudo o que você precisa, sem contar que existe um mundo inteiro aí fora pra você percorrer caminhando ou correndo.


Por que não?


Os atributos que citarei à seguir tratam-se dos que deixei escapar, por muito tempo, e que poderiam me beneficiar, tanto em termos de longevidade quanto de não atingir o famoso OverTraining [http://www.scf.unifesp.br/artigos/overtraining_carol.htm], o que me atingiu, por várias vezes, como uma locomotiva nos momentos que treinei durante um dia inteiro. Imagino que ser um atleta olímpico não seja seu objetivo (também não é o meu), por isso, vou encurtar a conversa mole e ir ao que interessa.


1. Paciência e Disciplina: Ingredientes do Ritmo


Quantas vezes você tentou correr com seus amigos (ou mesmo sozinho) e não coseguiu criar uma rotina de treino por conta das dores ou da falta de ar que o assolava enquanto se exercitava? Vou lhe dizer algo que talvez já saiba: No pain no gain, amigão. Se existisse desenvolvimento físico sem dor, sem exaustão ou sem ficar sedento por água, todos seríamos belíssimos manequins, saradões e vazios.


Os estímulos de dor e exaustão, por exemplo, quando bem canalizados e suportados, fomentam o desenvolvimento de certos adjetivos importantíssimos na gênese do ritmo.


1.1 Paciência


Talvez a característica mais importante, por ser base sólida de todo o aprendizado, é a mais demorada a se lapidar. A paciência (e não estou falando daquele joguinho que vem no Windows) vem com o tempo e a experiência.


Confesso que nem sempre fui determinado. Costumava deixar as coisas pra depois e acabava sempre me atrasando, prejudicando a tarefa que tinha me proposto a fazer. Então passei a refletir sobre essa falta de determinação e acabei concluindo que era, basicamente, impaciência, simples assim. Sou um cara perfeccionista e imediatista, e essas características apenas prejudicam quando não são bem canalizadas. Se seu nome não for Marty Mcfly, eu aconselho ter paciência e saber lidar com o tempo que tem.


"Quero ser paciente agora!"


Quando disse isso pra mim, não prestei atenção na asneira paradoxal, mas valeu de estímulo pra começar a praticar. Não há como fugir disso. Ser paciente é um trabalho paulatino, que deve se tornar um exercício diário em toda as esferas da nossa vida, das menos às mais relevantes coisas e assuntos. É compreender que nem tudo está submetido à nossa vontade e que precisamos (mesmo que não queiramos) aceitar o tempo de cada coisa, em cada lugar. Tudo em seu tempo.


1.2 Disciplina


Não adianta ser o cara mais paciente do mundo se você é desorganizado e acha que tudo vai cair do céu. Como diria Stallone: "(...)o mundo não é feito de dias ensolarados e arco-íris (...)". E não é mesmo, a não ser que você seja um teletubbie.


Ter disciplina não é sair pra correr de qualquer jeito, ir pra barra querendo intortá-la de raiva ou fazer umas flexões sem ter algo no estômago. Ter disciplina se trata de respeito com a atividade proposta e consigo mesmo; agendar os dias e horários; pré-definir as atividades. Enfim, é ser organizado e se respeitar, antes, durante e depois, o que implica em perceber seus limites sem negligencia-los.


2. Limites


Em conversas com amigos e conhecidos, a maior dificuldade que eles apresentam se resume no quão difícil é o exercício, o que, ao meu ver, é um obstáculo facilmente transponível. Por quê? Ora, porque o que é difícil pra você, talvez não seja pra mim, e vice-versa. Nivelar-se pelo limite alheio é o grande problema, e acaba sendo uma das razões pela qual a "corridinha entre amigos" nunca vingar.


"Tal é para mim como é para mim. Tal é para ti como é para ti."

- Protágoras


Se você é daqueles que usa seu condicionamento físico (ou a falta dele) como desculpa pra se manter sentado nessa cadeira diariamente, como se fosse um eterno CEO [http://pt.wikipedia.org/wiki/Diretor_executivo] do seu quarto, esse é o momento de mudar. Não vejo, nem nunca vi, problema com os gordinhos saírem do estado de ociosidade. Na verdade, alguns já até se interessaram em participar dos meus treinos depois de algumas conversas sobre limitação. O problema, como havíamos observado, é a falta de auto-conhecimento. Todos podemos fazer de tudo um pouco, mas em níveis diferentes, basta termos bom-senso e ritmo.


Há de considerar, então, que o naturalizado passou pelo processo de mecanização, ou seja, derivou de uma certa intenção e, após o período de adaptação, foi incorporado ao indivíduo como algo natural. Eu adoro usar o exemplo do caminhar, pro pessoal ocioso-pessimista. Hoje em dia, não vemos mistério algum nesse exercício corriqueiro. Mas não se engane, nem sempre foi assim. Um bom exemplo são as crianças. Elas nos dão uma verdadeira lição, e eu, particularmente, as considero mestres em ritmo, pois diariamente, quando estão aprendendo a andar, tentam, com afinco, nem sempre respeitando suas limitações, mas procurando dar um passo de cada vez, tornando aquele trabalho (difícil pra caçapa) em algo natural, como é o nosso caminhar hoje em dia.


Nascemos com todas as desculpas do mundo para não nos tornarmos quem somos hoje.


Agora imagine você, sem equilíbrio, força e orientações de como fazer o que se propôs a fazer. Difícil, né? Como pudemos esquecer que fomos capazes de caminhar com poucos meses de vida sem auxílio algum, nem condições físicas adequadas, e hoje não conseguimos levantar nossa bunda da cadeira e fazer algo que preste, de fato, pro nosso corpo?


As vezes esquecemos que o que nos faz pessoas melhores é progredir em nossas próprias dificuldades.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O que é Verdade?

Verdade.

Alguém já parou para pensar, se atreveu ou teve a curiosidade de se perguntar do que se trata a "verdade"? O que é verdadeiro?

De acordo com o Institudo Houaiss de Lexicografia, em seu minidicionário Houaiss da Língua Portuguesa (4 Edição - 2010), a palavra Verdade está definida como "algo que está de acordo com o real; exatidão". A palavra verdadeiro vem logo em seguida e é descrita como "algo que está em conformidade com os fatos ou a realidade; palpável, verídico, incontestável, preciso".

Mas se a verdade é real, o que é Real?

Real: "próprio de realeza, rei; que tem existência palpável, concreta; existe de fato, de verdade; fato verdadeiro, realidade".

Verdade, então, pode ser compreendida como algo real, próprio de realzea, ou seja, "Estado governado por rei". Rei, em sentido figurativo, denotando um "poder supremo", um governo abrangente, uma generalidade. Dessa forma, tomamos o entendimento de verdade como uma generalidade abrangendo e governando de forma suprema no âmbito total. Neste primeiro momento, então, é possível afirmar que a verdade comunga de um poder absoluto ou soberania extrema?

Vamos reservar tais proposições e nos perguntar algumas outras coisas antes de continuarmos.

Do que se trata esse âmbito total? Seria algo relacionado ao ser humano? Há de pensarmos que não, levando em consideração que a abrangência do real é supra-humana, ou seja, vai além do que é relativo ao homem. Seria então algo relacionado ao nosso planeta, ao nosso Sistema Solar ou Galáxia?

De acordo com essas perguntas (e certamente suas possíveis respostas filtradas por inflexões) e levando em consideração a premissa que verdade é geral e abrange de forma suprema em âmbito total/universal, ou seja, onipotente, é correto afirmar que o entendimento de verdade é ubíquo ou onipresente?

Tomando a onipotência e onipresença como adjetivos pressupostos da verdade, é indispensável que façamos uma ligação com uma possível validade, a qual não se configura. Verdade não é perene nem se alterna. Rege e ordena de forma indiscriminada a validade existencial das coisas (tudo o que constitue o universo). A verdade está suspensa em âmbito atemporal e é o ente que valida o que é existente.

Logo, verdade é uma consciência perene da constituição do paradóxo. Verdade é comum nos opostos que constituem a realidade, perto-longe; existente-inexistente; amor-ódio; claro-escuco; vazio-cheio; 0-1. Realidade, regida pela verdade, é a expressão material e não-material da associação e dissociação das partículas, de ordem supra-humana, metafísica, presente em absoluto no Universo o qual ocupamos apenas uma ínfima fração. Jamais saberiamos se algo é prazeiroso sem ter tido, previamente, a consciência pela experiência (para futura comparação) da existência do doloroso e assim é para todos os opostos constituintes do universo.

Verdade é consciência da plenitude, inalienável, totalitária e assombrosamente presente em tudo o que fazemos e interagimos. Rege, com soberania extrema, sem predileções.

Verdade é criatura, criador e incriado.

Verdade é Deus e, realmente, está presente em todas as coisas.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Seja o bem que acredita e mude o mundo.

Para mudar a vida de alguém, as vezes, basta um pequeno gesto de amor, mas para mudar o mundo esse gesto de amor deve ser para consigo.


É curioso pararmos e obsevarmos essa interessante dinâmica que acontece silenciosa e sem pressa nos mais diferentes níveis de relações, durante nossa vida. Trazer o amor ou a dor para si é algo observado, e por consequência, refletido, ponderado e adotado (ou não) por nossos semelhantes. Essa é uma ferramenta forte, o bastante pra guiar alguém durante a vida. Acredito também que é o que pode mudar o mundo.


Todos, sem excessão, possuem esse "poder". A capacidade de adotar parar si atributos benéficos, mudar sua rotina de vida para melhor, retirar o que de mal lhe consome. Podemos mudar a vida de alguém fazendo algo de bom para alguém, mas podemos mudar o mundo se fizermos algo genuinamente bom para nós mesmos. De que forma? Bom, somos, no dia-a-dia, o que acreditamos. Não importa o quanto falemos que bebidas alcoólicas fazem mal, não importa o quanto contemos os malefícios que o tabaco pode trazer ao nosso organismo, o quanto ressaltemos os inúmeros benefícios que atividades físicas proporcionam ao corpo ou que a leitura de um bom livro exercita a mente, se no nosso cotidiano não agimos de acordo.


Ser o bem que acreditamos muda o mundo, repito. Essa afirmação está de acordo com uma ideologia Taoísta, Wu Wei, a qual expressa a busca pela harmonia com o caminho (Tao). O acordo entre esta afirmação e a ideologia está no que diz respeito a "ação pela não ação". Wu Wei, literalmente, significa "não agir" e também é utilizado por muitas vezes como "Wei Wu Wei", ou "agir não agindo", "agir sem agir".


Na Teologia, inspiração significa "Iluminar o espírito", o que concorda totalmente com Wu Wei. Ao pensarmos em uma situação lúdica (mas não menos possível) no qual um rapaz executa alguns passos de dança de forma apaixonada, com uma leveza tão grande que o faz parecer ser a personificação de uma brisa em uma tarde de outono. Tal façanha nos da a ideia de que a dança é algo simples, mas é o amor que o dançarino emprega em seus passos que nos faz pensar dessa forma e nos contagia em um nível tão elevado que sentimos uma vontade de tentar também. Um Esse sentimento apaixonado que o rapaz emprega em sua atividade é como um vírus contagioso, e independente de qual atividade tenha sido fomentada por tal sentimento, esse expressará facilidade e contagiará da mesma maneira.

Posso dar alguns exemplos icônicos do que quero dizer: Michael Jackson, Bruce Lee, Mahatma Gandhi, Dan Osman, Chris Sharma, Dalai Lama, Eckhart Tolle,

Jean Jacques Rousseau, Jesus Cristo, Lao Tse, Morihei Ueshiba, Jigoro Kano, Miyamoto Musashi, Antonio Vivaldi, Ayrton Senna, Pelé, enfim, posso passar bastante tempo mencionando o nome várias pessoas que souberam/sabem amar.


Wu Wei, ou seja, Agir sem agir é dar o exemplo. Quando damos um exemplo fomentado pelo amor, semeamos o mundo com amor, e isso nos possibilita mudar o mundo.


Não importa o que você faça, nem como faça, fazer com amor sincero é o mais importante. Inspire, ame.


Ossu.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O que você valoriza?

Antes de fazer tal pergunta, acredito que o mais pertinente seja perguntar: "O que é valor pra você?"

Bem, faz alguns dias que pude ter a oportunidade de refletir melhor sobre esse assunto. Oportunidade essa fomentada por algumas situações em um evento o qual participei, em Brasília - DF. O evento chamado Partour, já em sua terceira edição, reúne dezenas de pessoas afim de explorar picos de treino da região em foco e diferentes situações ao grupo de praticantes de parkour, sejam eles iniciantes ou iniciados. Fora isso, temos o parkour, como já conhecemos. E o valor, onde está? Pra falar sobre isso preciso voltar um pouco mais no tempo.

Eu, Thiago Lima, vinha treinando, já a alguns anos, com uma calça de moleton cinza comprada sabe lá onde. Essa calça, a princípio, não possuía nem uma fagulha de valor, a não ser o preço que paguei quando efetuei a compra da mesma. Após vários tipos de treino e situações diversas vivenciadas vestindo-a, algo mudou. Aquela calça já não significava mais um pedaço do meu "uniforme de tracer" e o valor pago por ela em loja estava longe de ser o mesmo. Ela já tinha um punhado de histórias a serem contadas, por rasgos, marcas de barro, pó de concreto, manchas de sangue. Aquela calça já não era mais uma calça qualquer. Ao menos para mim, ela havia se transformado em uma insígnia, uma medalha de mérito. Um exemplo tangível de dedicação, força de vontade, enfim.

Passei adiante para uma pessoa a qual ganhou minha confiança e meu respeito sincero, e que, apesar dos rasgos, sujeira e manchas acumuladas, viu naquele pedaço de pano velho um valor escondido. Esse foi meu presente, minha condecoração por mérito a um amigo.

Felizmente, outras pessoas continuaram nesse movimento, com essa atitude linda, trocando não por "rolo", mas por mérito/honra/por ter valores e princípios louváveis, algo que possuíam de "valor real".

Isso muito me recorda o ritual (tentarei ser bem sintético) que os Samurais (ao menos os que seguiam o Bushido) realizavam antes de combater. Tomavam um bom banho, vestiam roupas limpas e se equipavam com sua armadura, de maneira impecável. Faziam isso com o propósito de que, caso fossem derrotados em batalha, seu corpo tomaria forma de troféu, e a honra de ser derrotado por um oponente superior, melhor em batalha, deveria ser paga com o respeito, através de cuidados prévios ao embate. Nesse caso, o presente é o corpo, o qual carrega experiência e uma história de vida, análogo aos objetos mencionados acima.

O valor não está na quantia de dinheiro gasta pelo objeto, mas nas atribuições subjetivas agregadas somente com a experiência e tempo.

Eu gostaria de aproveitar essa oportunidade e pedir aos leitores que cuidem do que possuam de real valor, pois independente do tamanho, da forma ou do tempo de existência, o valor de tal objeto é, e continuará sendo, inestimável.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Honorabilidade adquirida.

Assunto que venho digerindo a alguns meses e, impulsionado pelo último post do decimadomuro.com, a respeito da Autoconstrução, finalmente resolvi por em palavras o que vinha pensando. Palavras também me chamaram a atenção, no texto escrito por Filipe Ramos. Duas, pra ser mais preciso, respeito e conduta. Essas duas palavras tem um peso enorme, quando visto do ângulo de quem trabalha uma postura comum a retidão.

Nesses últimos meses percebi algo simples, que venho experienciando desde quando comecei a praticar Parkour. A capacidade de cuidar do local em que se exerce algum tipo de atividade, não é inerente a pessoa que cuida, contudo, o lugar, seja qual for, possui uma discreta necessidade de respeito.

A pessoa que respeita, acredito eu, mantém algo ou alguém em patamar de igualdade, porém, essa igualdade só se dá quando, por algum motivo, o algo ou alguém torna-se parte, de alguma maneira, daquela pessoa, seja por experiência ou por convergência de ideias, por exemplo.
Não posso deixar de lado, obviamente, a capacidade contemplativa da unidade, é onde se configura um nível de consciência. Nível de consciência expresso nas ideologias do Taoismo, Budismo, entre outras.

Com os praticantes de Parkour acontece com frequência. Nós, quando começamos a treinar em um determinado lugar, ainda não nutrimos tal sentimento. Mesmo com toda a euforia do momento, não sentimos que aquele local tem um valor expressivo. O valor que o lugar tem é algo particular, excepcionalmente ligado ao indivíduo. Nesse caso, o lugar só ganhará seu "devido respeito", após um bom tempo de treino, de uso.
Não que desrespeitemos todos os lugares os quais não tenhamos tido a oportunidade de despender tempo, mas o lugar não é venerável. É apenas mais um lugar.

Assim foi, durante essas ultimas semanas, em que tenho aprendido a cozinhar alimentos mais específicos. A prática da culinária me fez valorizar a cozinha com a mesma intensidade que valorizo meus locais de treino.
E se expandirmos essa consciência de uso, tomando todo o "uso"
como experiência, e se levarmos em consideração que a experiência que temos é algo íntimo nosso, algo intrasmissivel, então podemos criar uma conduta de respeito
a basicamente tudo. Tal conduta de respeito se configura em uma postura, uma postura que revela, mesmo que implicitamente, consciência. A consciência que fazemos parte de tudo, e que tudo faz parte de nós.

Lembra das marcas que ficaram na grama depois das centenas de repetições de flexões? Ou das marcas de sangue no muro daquele lugar em que você ia treinar sozinho? Ou daquela árvore que ajudou a plantar quando criança, junto de seus pais? Ou daquele desenho que você fez o qual você mesmo achou extraordinário e não deixava ninguém pegar no papel pra não amassar? Ou daquela coisa que você despendeu tempo o suficiente pra preenche-la com um valor que só você consegue saber? Lembra?

Independente da postura tomada, absolutamente todas as coisas merecem respeito. Ter consciência disso é um momento; manter-se consciente a respeito disso, é um exercício.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Budô

A prática física, seja ela qual for, está intrinsecamente ligada a espiritualidade, pois uma complementa a outra.

Me sinto muitíssimo à vontade para falar, como aprendiz, sobre o Budô, pois compreendo que somente os que comungam do Caminho podem, não apenas entendê-lo, mas senti-lo e vivencia-lo através de suas inúmeras formas e expressões.

Devo agradecer por ter tido a oportunidade de estudar e praticar o Budismo tal como o Taoismo, os quais fui praticante e pude compreender melhor seus conceitos antes mesmo de me iniciar em atividades Marciais, tal como a que pratico atualmente.
Até pouco tempo atrás, não tinha nem ouvido falar em Budô, logo, não sabia que era algo praticável, mas minha jovem e imatura concepção de treino já havia se alargado de modo que meu dia-a-dia respirava (e respira) treino/prática.

Meus últimos 3 anos vieram para reforçar as questões que dizem respeito ao Caminho. Compreender e praticar é o que venho fazendo, mesmo que de maneira questionável e transgressora aos olhos alheios. Para mim é facilmente esclarecido por conta das noções religiosas mencionadas anteriormente. Não as culpo; as louvo, pois ampliaram minha perspectiva de reflexão, bem como os estudos de Filosofia.

Bushido, literalmente, significa "Caminho do Guerreiro". O código do Samurai, o modo de conduzir sua estada terrena. Bujutsu, ou Técnica Marcial, era o que os Bushi (Samurais) praticavam, aprimorando seu Bushin (Espírito Marcial). Budo, considerado a versão moderna do Bujutsu, significa "Caminho Marcial", onde Bu pode ser interpretado como "marcial", "parar conflito com armas", ou também, "ação de valor", "modo corajoso de viver", "compromisso com a justiça". Do significa o Tao, "Caminho para a verdade", "a Vereda para libertação". Budô tem o significado de "Caminho Marcial" ou "Caminho para ações de coragem e iluminação".

Em poucas palavras, posso dizer que o Budô é a denominação da conduta do artista marcial que, através da devoção ao treinamento, amplia seu campo de visão e possibilita a si, ver o não-óbvio, iluminando-se e libertando a própria mente. Libertar-se é não promover barreiras egoístas, significa não ser apanhado ou enganado por qualquer objeto em especial, físico ou mental. Esse é o estado de liberdade.

Deishu Takahashi (1835 - 1903) escreveu:
"Não temos um corpo divino, mas a compaixão pode nos dar um corpo divino. Não temos um poder divino, mas a honestidade pode nos dar um poder divino. Não temos inteligência divina, mas a sabedoria pode nos dar uma inteligência divina. Não podemos fazer milagres, mas se não criarmos obstáculos, podemos fazer milagres. Não podemos salvar o mundo, mas a bondade nos habilitará a salvar o mundo."

Kanken Toyama (1888 - 1966), Mestre do Karatê, dizia a seus alunos:
"As técnicas secretas começam com as técnicas básicas; as técnicas básicas terminam como técnicas secretas. Não há segredos no começo mas há segredos no final. A chave do sucesso é o treinamento árduo."

Aos que interessam somar e/ou seguir a estratégia de um dos Mestres do Budô, colocarei a baixo a lista com os Nove Mandamentos de Miyamoto Musashi (1584 - 1645) escrito no capítulo do elemento "Terra" em seu Livro dos Cinco Anéis.

1. Não pense com desonestidade.
2. Trabalhe constantemente o corpo e a mente.
3. Mantenha-se inteirado de todas as artes
4. Conheça um pouco de todos os ofícios.
5. Aprenda a avaliar as vantagens e desvantagens das coisas.
6. Desenvolva a compreensão de todos os assuntos.
7. Perceba os fatos que não são óbvios.
8. Preste atenção aos menores detalhes.
9. Não perca tempo com coisas desnecessárias.

Retornar a Mãe de todas as coisas é função de cada partícula; Antecipar o retorno é opcional.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

It`s not a way of fighting, it`s a way of thought.

Tenho ciência de que o motivo de cada um, em quaisquer que seja sua atividade, por quaisquer que seja(am) seu(s) objeivo(s), é unicamente relacionado a tal indivíduo, ou seja, é essencialmente particular, e por isso não me aprofundarei no que diz respeito a isso. Mas venho, através desse registro, deixar claro para mim que, independente do que façamos, ou porquê façamos, individual ou coletivamente, tal adividade é relacionada ao que chamamos de Movimento, e esse é previamente relacionado, de maneira íntima, a um motivo. Mas vamos nos desfazer temporariamente desse esteriótipo (a respeito do movimento) e observa-lo através de uma perspectiva mais subjetiva.

Subdividi o Movimento em algumas esferas, das quais utilizei duas para exemplificar em um diagrama, o movimento Mecânico e o movimento Ideológico. Para que fique mais claro, acredito que o "movimento" é tudo. Tudo aquilo que muda, se transforma e harmoniza-se em si mesmo. Ousado da minha parte chegar a um ponto tão sensível quanto esse, mas de fato, é o que acredito. Um pouco difícil de explicar também, mas vou tentar.

Pense em uma pessoa ou simplesmente olhe alguém na rua. Imaginemos que esse indivíduo é um desconhecido e não sabemos a origem dele. O que faz essa pessoa ser uma pessoa? O fato de ele/ela ter vida e caminhar? O que você diria se fosse apenas um órgão interno diante de você? Diria que é uma pessoa? Invertamos então. O que diria se fosse apenas olhos, pelos e pele, vestidos com uma roupa da moda, sem absolutamente nada por dentro? Diria que é alguém? Pois bem, não é assim que observo as pessoas, não é assim que observo o movimento.

O movimento é concebido por mim como um invólucro, o qual comporta todas suas diversas formas de se expressar, assim como um cirurgião observa os diversos órgãos internos de uma pessoa considerando-a apenas UMA pessoa, um paciente. Observar o movimento, e suas diversas formas, através dessa unidade, não é tarefa fácil. Ao menos não foi/é para mim.

É incrível como podemos aprender sobre ritmo e fluidez em uma música e simplesmente ver o movimento acontecer. Confesso que após essa percepção sobre ritmo e fluidez, pude por em prática, em movimentos mecânicos, o que antes não conseguia, e vice-versa. Uma música que considero incrivelmente fluente, é do barroco antigo, chamada "Le Quattro Stagioni" (As Quatro Estações) do músico e compositor Italiano, Antônio L. Vivaldi (1678 - 1741).

Podemos ver tal fluência e clareza também em textos/escrituras, conversas ou mesmo em um chefe de cozinha em uma nova construção da gastronomia (quando o mesmo domina suas ferramentas e ingredientes), em monumentos, na elaboração de uma boa ideia ou em um esgueirar de um felino. Independente da natureza do que observemos, seja sonora, motora, ideológica, verbal ou não, há de existir uma maneira de trabalhar tal habilidade.

Como no esquema, considero toda a forma de expressar o movimento passiva de treino, e partindo do pré-suposto de que quando nascemos nossas únicas funções são (de forma geral) adaptar, somar e desenvolver, tudo é treinável/praticável.

Diluir as formas de expressão do movimento e entende-lo como ele mesmo em sua unidade, levantou mais questões que conclusões, mas ao mesmo tempo em que tudo se funde e se confunde dentro de uma única ideia, tudo fica mais claro, e assim me permite observar melhor tais mudanças. Mudanças físicas, comportamentais, culturais, sem conceitos pré-estabelecidos, sem delimitações, definições. Sem muros.

E sabe de uma coisa? Talvez, treinar transposições seja apenas uma desculpa para dizer que tudo não passa de uma coisa só, e que o movimento está em todo o lugar.


Everything is trainable therefore everything is move. It`s up to you find your true motivation to not stop moving.

Thiago Lima