Bem, faz alguns dias que pude ter a oportunidade de refletir melhor sobre esse assunto. Oportunidade essa fomentada por algumas situações em um evento o qual participei, em Brasília - DF. O evento chamado Partour, já em sua terceira edição, reúne dezenas de pessoas afim de explorar picos de treino da região em foco e diferentes situações ao grupo de praticantes de parkour, sejam eles iniciantes ou iniciados. Fora isso, temos o parkour, como já conhecemos. E o valor, onde está? Pra falar sobre isso preciso voltar um pouco mais no tempo.
Eu, Thiago Lima, vinha treinando, já a alguns anos, com uma calça de moleton cinza comprada sabe lá onde. Essa calça, a princípio, não possuía nem uma fagulha de valor, a não ser o preço que paguei quando efetuei a compra da mesma. Após vários tipos de treino e situações diversas vivenciadas vestindo-a, algo mudou. Aquela calça já não significava mais um pedaço do meu "uniforme de tracer" e o valor pago por ela em loja estava longe de ser o mesmo. Ela já tinha um punhado de histórias a serem contadas, por rasgos, marcas de barro, pó de concreto, manchas de sangue. Aquela calça já não era mais uma calça qualquer. Ao menos para mim, ela havia se transformado em uma insígnia, uma medalha de mérito. Um exemplo tangível de dedicação, força de vontade, enfim.
Passei adiante para uma pessoa a qual ganhou minha confiança e meu respeito sincero, e que, apesar dos rasgos, sujeira e manchas acumuladas, viu naquele pedaço de pano velho um valor escondido. Esse foi meu presente, minha condecoração por mérito a um amigo.
Felizmente, outras pessoas continuaram nesse movimento, com essa atitude linda, trocando não por "rolo", mas por mérito/honra/por ter valores e princípios louváveis, algo que possuíam de "valor real".
Isso muito me recorda o ritual (tentarei ser bem sintético) que os Samurais (ao menos os que seguiam o Bushido) realizavam antes de combater. Tomavam um bom banho, vestiam roupas limpas e se equipavam com sua armadura, de maneira impecável. Faziam isso com o propósito de que, caso fossem derrotados em batalha, seu corpo tomaria forma de troféu, e a honra de ser derrotado por um oponente superior, melhor em batalha, deveria ser paga com o respeito, através de cuidados prévios ao embate. Nesse caso, o presente é o corpo, o qual carrega experiência e uma história de vida, análogo aos objetos mencionados acima.
O valor não está na quantia de dinheiro gasta pelo objeto, mas nas atribuições subjetivas agregadas somente com a experiência e tempo.
Eu gostaria de aproveitar essa oportunidade e pedir aos leitores que cuidem do que possuam de real valor, pois independente do tamanho, da forma ou do tempo de existência, o valor de tal objeto é, e continuará sendo, inestimável.
Muito bom texto, principalmente nesse momento (que apesar de não ser novo é constante) em que as coisas possuem valor cada vez mais monetário. Bom observar que pequenas coisas acabam mudando de significado e ganhando valor.
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