Campo de pesquisa

segunda-feira, 14 de março de 2011

Honorabilidade adquirida.

Assunto que venho digerindo a alguns meses e, impulsionado pelo último post do decimadomuro.com, a respeito da Autoconstrução, finalmente resolvi por em palavras o que vinha pensando. Palavras também me chamaram a atenção, no texto escrito por Filipe Ramos. Duas, pra ser mais preciso, respeito e conduta. Essas duas palavras tem um peso enorme, quando visto do ângulo de quem trabalha uma postura comum a retidão.

Nesses últimos meses percebi algo simples, que venho experienciando desde quando comecei a praticar Parkour. A capacidade de cuidar do local em que se exerce algum tipo de atividade, não é inerente a pessoa que cuida, contudo, o lugar, seja qual for, possui uma discreta necessidade de respeito.

A pessoa que respeita, acredito eu, mantém algo ou alguém em patamar de igualdade, porém, essa igualdade só se dá quando, por algum motivo, o algo ou alguém torna-se parte, de alguma maneira, daquela pessoa, seja por experiência ou por convergência de ideias, por exemplo.
Não posso deixar de lado, obviamente, a capacidade contemplativa da unidade, é onde se configura um nível de consciência. Nível de consciência expresso nas ideologias do Taoismo, Budismo, entre outras.

Com os praticantes de Parkour acontece com frequência. Nós, quando começamos a treinar em um determinado lugar, ainda não nutrimos tal sentimento. Mesmo com toda a euforia do momento, não sentimos que aquele local tem um valor expressivo. O valor que o lugar tem é algo particular, excepcionalmente ligado ao indivíduo. Nesse caso, o lugar só ganhará seu "devido respeito", após um bom tempo de treino, de uso.
Não que desrespeitemos todos os lugares os quais não tenhamos tido a oportunidade de despender tempo, mas o lugar não é venerável. É apenas mais um lugar.

Assim foi, durante essas ultimas semanas, em que tenho aprendido a cozinhar alimentos mais específicos. A prática da culinária me fez valorizar a cozinha com a mesma intensidade que valorizo meus locais de treino.
E se expandirmos essa consciência de uso, tomando todo o "uso"
como experiência, e se levarmos em consideração que a experiência que temos é algo íntimo nosso, algo intrasmissivel, então podemos criar uma conduta de respeito
a basicamente tudo. Tal conduta de respeito se configura em uma postura, uma postura que revela, mesmo que implicitamente, consciência. A consciência que fazemos parte de tudo, e que tudo faz parte de nós.

Lembra das marcas que ficaram na grama depois das centenas de repetições de flexões? Ou das marcas de sangue no muro daquele lugar em que você ia treinar sozinho? Ou daquela árvore que ajudou a plantar quando criança, junto de seus pais? Ou daquele desenho que você fez o qual você mesmo achou extraordinário e não deixava ninguém pegar no papel pra não amassar? Ou daquela coisa que você despendeu tempo o suficiente pra preenche-la com um valor que só você consegue saber? Lembra?

Independente da postura tomada, absolutamente todas as coisas merecem respeito. Ter consciência disso é um momento; manter-se consciente a respeito disso, é um exercício.