Campo de pesquisa

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Budô

A prática física, seja ela qual for, está intrinsecamente ligada a espiritualidade, pois uma complementa a outra.

Me sinto muitíssimo à vontade para falar, como aprendiz, sobre o Budô, pois compreendo que somente os que comungam do Caminho podem, não apenas entendê-lo, mas senti-lo e vivencia-lo através de suas inúmeras formas e expressões.

Devo agradecer por ter tido a oportunidade de estudar e praticar o Budismo tal como o Taoismo, os quais fui praticante e pude compreender melhor seus conceitos antes mesmo de me iniciar em atividades Marciais, tal como a que pratico atualmente.
Até pouco tempo atrás, não tinha nem ouvido falar em Budô, logo, não sabia que era algo praticável, mas minha jovem e imatura concepção de treino já havia se alargado de modo que meu dia-a-dia respirava (e respira) treino/prática.

Meus últimos 3 anos vieram para reforçar as questões que dizem respeito ao Caminho. Compreender e praticar é o que venho fazendo, mesmo que de maneira questionável e transgressora aos olhos alheios. Para mim é facilmente esclarecido por conta das noções religiosas mencionadas anteriormente. Não as culpo; as louvo, pois ampliaram minha perspectiva de reflexão, bem como os estudos de Filosofia.

Bushido, literalmente, significa "Caminho do Guerreiro". O código do Samurai, o modo de conduzir sua estada terrena. Bujutsu, ou Técnica Marcial, era o que os Bushi (Samurais) praticavam, aprimorando seu Bushin (Espírito Marcial). Budo, considerado a versão moderna do Bujutsu, significa "Caminho Marcial", onde Bu pode ser interpretado como "marcial", "parar conflito com armas", ou também, "ação de valor", "modo corajoso de viver", "compromisso com a justiça". Do significa o Tao, "Caminho para a verdade", "a Vereda para libertação". Budô tem o significado de "Caminho Marcial" ou "Caminho para ações de coragem e iluminação".

Em poucas palavras, posso dizer que o Budô é a denominação da conduta do artista marcial que, através da devoção ao treinamento, amplia seu campo de visão e possibilita a si, ver o não-óbvio, iluminando-se e libertando a própria mente. Libertar-se é não promover barreiras egoístas, significa não ser apanhado ou enganado por qualquer objeto em especial, físico ou mental. Esse é o estado de liberdade.

Deishu Takahashi (1835 - 1903) escreveu:
"Não temos um corpo divino, mas a compaixão pode nos dar um corpo divino. Não temos um poder divino, mas a honestidade pode nos dar um poder divino. Não temos inteligência divina, mas a sabedoria pode nos dar uma inteligência divina. Não podemos fazer milagres, mas se não criarmos obstáculos, podemos fazer milagres. Não podemos salvar o mundo, mas a bondade nos habilitará a salvar o mundo."

Kanken Toyama (1888 - 1966), Mestre do Karatê, dizia a seus alunos:
"As técnicas secretas começam com as técnicas básicas; as técnicas básicas terminam como técnicas secretas. Não há segredos no começo mas há segredos no final. A chave do sucesso é o treinamento árduo."

Aos que interessam somar e/ou seguir a estratégia de um dos Mestres do Budô, colocarei a baixo a lista com os Nove Mandamentos de Miyamoto Musashi (1584 - 1645) escrito no capítulo do elemento "Terra" em seu Livro dos Cinco Anéis.

1. Não pense com desonestidade.
2. Trabalhe constantemente o corpo e a mente.
3. Mantenha-se inteirado de todas as artes
4. Conheça um pouco de todos os ofícios.
5. Aprenda a avaliar as vantagens e desvantagens das coisas.
6. Desenvolva a compreensão de todos os assuntos.
7. Perceba os fatos que não são óbvios.
8. Preste atenção aos menores detalhes.
9. Não perca tempo com coisas desnecessárias.

Retornar a Mãe de todas as coisas é função de cada partícula; Antecipar o retorno é opcional.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

It`s not a way of fighting, it`s a way of thought.

Tenho ciência de que o motivo de cada um, em quaisquer que seja sua atividade, por quaisquer que seja(am) seu(s) objeivo(s), é unicamente relacionado a tal indivíduo, ou seja, é essencialmente particular, e por isso não me aprofundarei no que diz respeito a isso. Mas venho, através desse registro, deixar claro para mim que, independente do que façamos, ou porquê façamos, individual ou coletivamente, tal adividade é relacionada ao que chamamos de Movimento, e esse é previamente relacionado, de maneira íntima, a um motivo. Mas vamos nos desfazer temporariamente desse esteriótipo (a respeito do movimento) e observa-lo através de uma perspectiva mais subjetiva.

Subdividi o Movimento em algumas esferas, das quais utilizei duas para exemplificar em um diagrama, o movimento Mecânico e o movimento Ideológico. Para que fique mais claro, acredito que o "movimento" é tudo. Tudo aquilo que muda, se transforma e harmoniza-se em si mesmo. Ousado da minha parte chegar a um ponto tão sensível quanto esse, mas de fato, é o que acredito. Um pouco difícil de explicar também, mas vou tentar.

Pense em uma pessoa ou simplesmente olhe alguém na rua. Imaginemos que esse indivíduo é um desconhecido e não sabemos a origem dele. O que faz essa pessoa ser uma pessoa? O fato de ele/ela ter vida e caminhar? O que você diria se fosse apenas um órgão interno diante de você? Diria que é uma pessoa? Invertamos então. O que diria se fosse apenas olhos, pelos e pele, vestidos com uma roupa da moda, sem absolutamente nada por dentro? Diria que é alguém? Pois bem, não é assim que observo as pessoas, não é assim que observo o movimento.

O movimento é concebido por mim como um invólucro, o qual comporta todas suas diversas formas de se expressar, assim como um cirurgião observa os diversos órgãos internos de uma pessoa considerando-a apenas UMA pessoa, um paciente. Observar o movimento, e suas diversas formas, através dessa unidade, não é tarefa fácil. Ao menos não foi/é para mim.

É incrível como podemos aprender sobre ritmo e fluidez em uma música e simplesmente ver o movimento acontecer. Confesso que após essa percepção sobre ritmo e fluidez, pude por em prática, em movimentos mecânicos, o que antes não conseguia, e vice-versa. Uma música que considero incrivelmente fluente, é do barroco antigo, chamada "Le Quattro Stagioni" (As Quatro Estações) do músico e compositor Italiano, Antônio L. Vivaldi (1678 - 1741).

Podemos ver tal fluência e clareza também em textos/escrituras, conversas ou mesmo em um chefe de cozinha em uma nova construção da gastronomia (quando o mesmo domina suas ferramentas e ingredientes), em monumentos, na elaboração de uma boa ideia ou em um esgueirar de um felino. Independente da natureza do que observemos, seja sonora, motora, ideológica, verbal ou não, há de existir uma maneira de trabalhar tal habilidade.

Como no esquema, considero toda a forma de expressar o movimento passiva de treino, e partindo do pré-suposto de que quando nascemos nossas únicas funções são (de forma geral) adaptar, somar e desenvolver, tudo é treinável/praticável.

Diluir as formas de expressão do movimento e entende-lo como ele mesmo em sua unidade, levantou mais questões que conclusões, mas ao mesmo tempo em que tudo se funde e se confunde dentro de uma única ideia, tudo fica mais claro, e assim me permite observar melhor tais mudanças. Mudanças físicas, comportamentais, culturais, sem conceitos pré-estabelecidos, sem delimitações, definições. Sem muros.

E sabe de uma coisa? Talvez, treinar transposições seja apenas uma desculpa para dizer que tudo não passa de uma coisa só, e que o movimento está em todo o lugar.


Everything is trainable therefore everything is move. It`s up to you find your true motivation to not stop moving.

Thiago Lima

sábado, 22 de maio de 2010

Epifania


Hoje cedo na praça, enquanto me exercitava, observava um grupo de trabalhadores da prefeitura fazendo uma tarefa que, acredito eu, todos os leitores do blog reconheçam. Eles estavam cortando a grama com uma roçadeira (aquelas máquinas longas, com um motor em uma extremidade e na outra um fio de nylon, o qual, girando com velocidade, corta a grama). Mas não foi a tarefa em si que me chamou a atenção, mas a movimentação do quadril dos trabalhadores, girando de um lado ao outro, e os passos sem ritmo e sem direção. A falta de direção, sentido, ritmo, aquela coisa tão amórfica, me fez lembrar dos momentos em que meu filho estava aprendendo a andar.

Considero, hoje em dia, o ato de andar/caminhar a tarefa/atividade mais difícil, em termos de aprendizado, que um ser humano pode desenvolver, e apesar disso, estamos aqui, nos movemos sem nem mesmo nos dar conta de tal dificuldade. Isso é naturalidade.

Mas nem sempre foi assim tão natural. O início é inevitavelmente tendencioso aos erros. Não temos guia ou alguém com quem trocar informação ou pedir conselhos de como começar. Não existe uma apostila "Meus primeiros passos", a qual, seguindo a risca, o sucesso é garantido. Não existe noção alguma sobre equilíbrio, força ou qualquer teoria que ajude, de alguma forma, a desenvolver algum movimento, seja ele qual for, em prol do tão almejado "andar naturalmente".

A observação é a única e melhor ferramenta que se possui, quando não se tem nada além disso. Lembro bem de quando meu filho, ainda sem nem mesmo andar, me observava brincando na cama e/ou andando em volta dele. Em pouco tempo os primeiros movimentos autónomos no sentido de locomoção (me refiro ao rolar e engatinhar) começaram a tomar forma. A prática era constante, como se ele quisesse se livrar das rédeas que o prendia a mim ou a qualquer outra pessoa que se sentisse no dever de carrega-lo pelo fato de ainda não saber se mover sozinho. A vontade era imensa, mas isso não bastava para que ele caminhasse sozinho.

Ainda sem força nas pernas nem equilíbrio, não houve momento em que vi desânimo ou falta vontade em tentar, mesmo que sozinho e caindo repetidas vezes. As tentativas e os incontáveis erros se arrastaram, juntamente com meu, até então, desajeitado filho. Hoje em dia, com 3 anos de idade, ele caminha, corre e até esboça alguns saltos, mas o aprendizado não veio em um dia ou um mês, nem mesmo um ano.

Apesar da capacidade de aprender, aprimorar e transmitir novas e/ou já conhecidas atividades, ser inerente ao ser humano, a paciência não é. Essa é uma habilidade que procuro desenvolver constantemente com minha família e trabalho, e algo que primo por transmitir.

Vivemos em um mundo repleto de possibilidades, os universos das coisas, as quais aqui, vou me limitar a comparar com pequenas piscinas que, ao mergulhar, conseguimos retirar algo. Esse "algo" podem ser momentos de alegria, momentos de tristeza, fama, prazer, dor, enfim. Com um pouco de paciência e dedicação, conseguimos ir mais fundo e ver o que as profundezas tem a nos oferecer, pois para chegar lá, onde a luz do exterior já não alcança, demanda bastante tempo, energia e muito fôlego.

Meu filho mergulhou na piscina do caminhar. Retirou de lá lições como equilíbrio, e hoje sabe que é fundamental utilizar a compensação do peso para se manter andando. Sabe também que a dor é passageira, mas a lição é para a vida (mesmo que a noção que tenha disso seja apenas instintiva). Eu também mergulhei nessa piscina com ele, e pude aprender que apesar da diversão, dos momentos de alegria proporcionados pelo "caminhar", dos momentos de reflexão por conta dos erros, etc, o que mais me chamou a atenção dessa vez é que, independente da piscina que se mergulhe, porquê se mergulhe, ou a que profundidade se vá, sempre há algo a se retirar/sentir/aprender.

Independente do que se faz na vida, do porquê se faz, ou mesmo por quanto tempo faz, apenas faça. Pois viver é fazer, é agir, é pôr a mão na massa, mas minha proposta, com Duddu e Edi, de ver quem faz, com 70 anos de idade, 10 planches seguidos, continua de pé! Então continuemos nadando profundeza a dentro, amigos.

Um abraço.