Campo de pesquisa

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sobre a Suficiência

Essa questão surge aos montes camuflada de diferentes formas. Para que se possa entender o termo, é necessário uma busca interna e perspicaz com relação aos nossos excessos. "O que consideramos excessivo?" devemos perguntar a nós mesmos, antes de mais nada. Contudo, mesmo antes de observarmos o excesso, devemos atentar para o dualismo expresso, seja nas coisas tangíveis ou intangíveis, seja no tempo ou no espaço, pois é esta atuante que determina o que é e o que não é suficiente.



A Dualidade:

A dualidade presente no universo tem sido observada através da reflexão por apenas alguns poucos milhares de anos. Não dissecarei teses, mas sim a ideia que algumas delas transmitem e o que minha própria experiência saboreou.


A cada momento de nossa vida, a cada gesto, um simples piscar dos olhos ou no bater do coração, a dualidade se encontra presente. De forma sintética, a dualidade são opostos de uma mesma coisa, tal qual os pólos de um imã. Mas peço que essa não seja tida apenas como a única maneira de observa-la (através de objetos materiais). A dualidade também está presente nos sentimentos (amor e ódio) e até mesmo no tempo (passado e futuro). A dualidade é algo que, apesar de não ser exatamente alguma coisa, é de abrangência universal.


Existe uma parábola, a qual tenho grande apreço, que procura transmitir a essência e o início da dualidade e do universo o qual conhecemos (pouco) hoje. Procurarei resumi-lo através de um breve conto alegórico.


"Houve um tempo onde uma grande rocha, a qual continha tudo o que se pode conter, e até mesmo aquilo que não se pode, resumia em sí os antagonismos do universo, apaziguando-os em uma única morada. Era a materialização do pleno e casa da irrefutável verdade. Contudo, por algum motivo, a rocha se partiu, fragmentando-se propiciando o afastando cada vez mais ténue de seus inversos. Desde então, a rocha, apesar de despedaçada em inúmeras partes, ainda anseia em ser majestosa como anteriormente, apesar de não possuir mais a consciência única. Nesse momento, a unidade tornou-se múltipla e sua multiplicidade, em sua essência, é uma só. O afastamento faz com que os antagonismos perpetuem uma guerra entre si objetivando essa prevalência. Quando estamos aqui, não estamos alí; o claro afasta o escuro; o que aconteceu, não acontecerá; a vida repudia a morte e a morte rejeita a vida, mas ambos os opostos fazem parte de um mesmo caminho."


Aos que, assim como a onda que foge do mar e em outro momento retoma a unidade, se dispuserem a reunir a consciência do uno através da multiplicidade em tudo e no nada, serão capazes de alcançar a liberdade e a paz.




O Excesso:


O excesso pode ser entendido como a falta de exercício de uma virtude chamada temperança, ou moderação. "Mas moderação de que?" há de se perguntar. É possível fazermos um paralelo excesso-dualismo, tendo como base o que foi abordado anteriormente. Até onde pudemos observar, o dualismo se manifesta através de extremos/radicais o qual chamaremos aqui de excessos. Excessos tanto na falta quanto na abundância. Vejamos um bom exemplo:


Quando se propõe a andar de bicicleta, tem-se duas opções para continuar no curso: ou pendemos para o lado direito, ou pendemos para o lado esquerdo. Mas nenhuma das duas opções são viáveis enquanto quisermos continuar pedalando em cima do veículo, pois o excesso de uma ou de outra ocasiona um acidente, um erro, interrompendo e pondo um fim em nossa jornada.


Não esqueçamos que o excesso é a expressão da dualidade, a qual não podemos nos desvencilhar a não ser por meio da consciência. Contudo, apesar de ambas estarem presentes no contexto universal, onde uma é subordinada a outra, apenas o excesso pode ser domado pela ponderação, afim de que a verdade nos mostre sua face a tanto obscurecida pelos antagonismos.



A Suficiência:


"O suficiente é suficiente por si só."


A suficiência nada mais é que equilíbrio entre os extremos, é o desprendimento dos opostos, é a imparcialidade entre os excessos, é a não-falta somada à não-abundância. É o ritmo natural de cada indivíduo.


A suficiência é como a quantidade "X" de um líquido, despejado em um copo com um pequeno furo no fundo. Esse copo possui um ritmo de esvaziamento que deve ser respeitado, e no intuito de mantê-lo, na maioria das vezes, cheio, sem desperdiçar em um possível excesso pela abundância ou pela falta, despeja-se o líquido com paciência e cautela até seja percebido a velocidade que o copo se esvazia.

O encontrar do esvaziamento do copo com o preenchimento, exercido por quem procura a harmonia, chama-se suficiência.


O que era dual, agora é trino, e a moeda deixa de ter apenas dois lados.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Síntese sobre a Inércia do Movimento Universal

Bem, primeiramente, como podemos entender o movimento?


O movimento se subdivide em ação e reações, as quais podemos compreender como formas. De formas, podemos entender tudo aquilo que é expresso de maneira com que os sentidos e a razão possam captar, seja através do auxilio de ferramentas ou não. Tendo descoberto isso, podemos começar.


É possível observar, estudar e falar sobre o mundo em que vivemos atualmente, contudo, o que observamos hoje em dia (ciência, arte, escrita, armas de fogo, o tempo, o espaço, etc), não surgiu da noite para o dia, tão apouco sem motivo. Não aconteceu simplesmente por um acaso ou por uma mera aparição bondosa da sorte em um dado momento da história. A questão é: Qual o princípio originário de tudo o que se conhece? ...ou seja, por que?

É de se pensar que não existe impedimento em dizer que essa simples pergunta deu origem a tudo o que conhecemos, já produzido pelo homem. A busca pela resposta, através de inúmeras tentativas no início crítico da história da humanidade, foi capaz de, com o passar do tempo, se transformar em Filosofia e em seguida Ciência, fragmentando-se em outras tantas vertentes metodológicas de estudo, as quais foram, de certa forma, incubidas de colaborar com a compreensão mais apurada do universo em que vivemos e como vivemos. Mas ainda assim, a resposta não foi encontrada.


Desde a Antiguidade, onde a pergunta foi suscitada pelos primeiros críticos (ou pensadores Filosóficos, como queiram chamar), a humanidade passou por alguns outros períodos marcantes na história, onde a indagação permanecia sem resposta, contudo, a busca ainda era presente. Nos dias de hoje não é diferente, porém os benefícios que a Ciência trouxe à humanidade são inúmeros.


Voltemos a observação do movimento no universo e tudo o que nele consta. É possível perceber hoje, com uma maior facilidade fornecida a nós pela Ciência, que essa simples pergunta nem sempre foi tão simples assim. Todavia, para que entendamos com maior clarividência é preciso nos questionar o motivo do que acontece agora, nesse momento.

Se nos dispusermos a escavar a razão que nos leva a fazer as coisas no dia-a-dia, encontraremos outras razões mais profundas para tais atividades, as quais nos levam a outras mais profundas ainda, perpassando o início da humanidade, do mundo e do universo. Sim, é possível que a razão para que exerçamos qualquer atividade nos dias atuais esteja intimamente ligado com o princípio do universo, e é nesse ponto que anseio chegar.

Imaginamos com frequência que o motivo que nos leva a abrir uma geladeira em busca de um copo com água é a nossa sede. Não seria um tanto egoista e prepotende da nossa parte pensar que a razão para que desenvolvamos as atividades no nosso dia-a-dia seja fruto exclusivamente de nossa vontade e que com ela fazemos o que bem intendemos e quando queremos ao nosso bel-prazer?


Estamos em meio a um efeito-dominó, onde por vezes pensamos que o "cair de uma peça" é exclusivamente de vontade particular, sem pararmos para pensar que tudo o que acontece não acontece pela ação do acaso ou pela sorte, mas com uma razão, um motivo. Esses acontecimentos nada mais são que reações de uma ação inicial, que desencadeou o efeito, e a isso chamaremos de Inércia do Movimento Universal.


Remetendo-nos a um lugar onde ainda não é lugar, onde o tempo ainda não teve tempo de começar a existir, antes da fase densa e quente que o universo passou, denominada "Big Bang", o que temos? O que fica entre tudo o que existe e a falta disso? Tendo como pressuposto que a própria inexistência só se dá na ausência da existência, o que, de certa forma, faz com que ambas estejam em lados opostos de "uma mesma moeda". Não vou me deter a essa questão e sim no que se dá posteriormente.

Se para cada ação existe uma reação, que ação provocou a reação primeira a qual desencadeou as demais reações das reações? Que dedo empurrou a primeira peça do dominó?


Adiantando-nos um pouco mais a frente no tempo, chegando nos dias atuais, indaguemos o por quê de continuarmos reagindo. Por quê dar o próximo passo? Por que continuar no movimento? Qual o motivo último de todas as reações? Bem, há de se pensar que o motivo para a vida é a morte, assim como do ascender é o apagar, etc. O paradoxo evidencia uma verdade de razão última para todas as coisas. Ele nos mostra o repouso sobre a imparcialidade existente entre a guerra da prevalência entre os opostos, o qual podemos identificar como o motivo ou razão para os fenômenos da existência e inexistência. Dessa maneira, podemos concluir então que, talvez, o motivo inicial e último para tudo o que existe e inexiste é o retorno ao pleno, no qual não há tentativa de prevalência entre as coisas, umas sobre as outras. Um apaziguar entre as formas de expressão, seja no tempo ou no espaço; seja com emoção ou razão; consciência ou inconsciência.


Contudo, o retorno ao pleno não é possível ser feito através do consciente, ou mesmo através do inconsciente, pelo motivo de ele não comungar exclusivamente de um ou de outro, mas de ambos. É a reunião através do "retorno à mãe" de tudo, ou seja, ao que precede o motivo inicial e último da criação (do parto) de todas as coisas.

sábado, 4 de abril de 2009

Espontaneidade: Movimento & Forma

Olá amigos. Bem-vindos, mais uma vez.

Não se trata de uma maneira de se mover, mas de uma maneira de pensar.

Ter momentos de aversão com relação a coisas internas e externas a nós é natural, prender-se e manter-se de forma avessa a esses momentos é uma opção que cabe a ponderação de cada indivíduo.
Ser espontâneo é ser pura e simplesmente verdadeiro consigo. É sentir e compreender a si próprio cultivando recursos para expressar-se. É ser livre.
Percebamos, agora, o seguinte. Sendo a espontaneidade a expressão da liberdade, podemos então dizer que estarmos presos a algo é exprimir a não-espontaneidade?
É possível pensar que somos livres e mantermo-nos presos em inúmeras selas subjetivas durante uma vida inteira e nem se dar conta disso, ou ficar preso em uma sela objetiva e ser um homem verdadeiramente livre. Coisas como se prender ao clima agradável; ser um atleta de Judô, não um Ginasta, ou ser um Ginasta e não um atleta de Judô; Cantar e não Dançar, ou Dançar e não Interpretar; preocupando-se em manter um estilo de vida X. Para isso, dou o nome de forma. Enquanto mantivermos uma forma Z, não poderemos ser A, B, C, D, E, F...

A equidistância é a expressão da espontaneidade, pois somente através da não-forma podemos assumir todas as formas.

Manter-se entre as formas, permite com que transitemos através todas, sem nos atermos a nenhuma. Através dessa habilidade podemos desfrutar do curso natural das coisas sem nos apegarmos as formas. O natural não é rápido ou lento, forte ou fraco, grande ou pequeno, ele é o que é, seja lá o que for e no tempo em que tiver que ser. Para o desfrute do curso natural das coisas, dou o nome de imperturbabilidade, a qual, paralelamente, promove a manutenção de uma virtude chamada paciência.
Movimento. Bem, o movimento talvez seja o mais subjetivo e abrangente modo de se expressar. Subjetivo no que nos aponta sua abrangência e ausência de delimitação. Posso citar o movimento de idéias através de uma conversa, ou o movimento gramatical através da produção de um texto; posso citar os movimentos sonoros, que acariciam nossa audição através de uma bela música ou mesmo os mecânicos, através do deslocar do corpo de uma bailarina em um palco. Movimentos sonoros, mecânicos, ideológicos, químicos, etc., todos são movimento. No momento em que pudermos observar que o movimento não é uma coisa, ele passará a ser todas as coisas. Podemos dizer então que o movimento é livre, e que por ser livre é espontâneo. Através da espontaneidade expressa, atinge-se a verdade, a qual é objetivo último e universal.
Todos nós nos movimentamos através do auxílio de inúmeras formas, as quais nos ajudam a expressar o que sentimos, o que pensamos, etc. Contudo, quanto mais fundo mergulhamos em meio as formas, tanto mais passivos de apego a elas, estamos. E é por esse motivo que a busca da consciência plena de cada forma possui um papel fundamental, pois nos conduz por meio de um caminho livre. Não no sentido de que não tenhamos mais obstáculos pela frente, mas que esses obstáculos não serão mais motivo de impedimento.

Você está se segurando em quê?

Até breve.