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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

1# Maromba do dia-a-dia: Naturalidade = Ritmo?




Você, que não é coveiro, mas está doido pra "pegar um corpo", já parou pra pensar nos exercícios que se faz, diariamente, sem ao menos sair de casa? Você, que não é um Arnold Schwarzenegger, mas treina com frequência, já refletiu sobre no que consiste a ideia de "treino" e por quê diabos você está se propondo a praticá-los?

Meu papel aqui será tentar fazer você olhar ao seu redor e perceber que é possível praticar inúmeras atividades físicas simples, bastando para isso, encontrar seu ritmo.


"Impossível treinar aqui, Thiago! Meu quarto não tem nada, eu sou desengonçado e desisto fácil!"


Péssimo, você já começou errado, pequeno gafanhoto. Em primeiro lugar, risque "impossível" do seu dicionário, assim como "desistir" e "desistência", e nunca mais repita que algo é impossível sem antes, tentar. Lembre-se, você é um guerreiro que não depende da espada para lutar, apenas da vontade. Em seguida, agradeça por seu quarto não ter nada. Quer melhor lugar pra criar seu próprio Centro de Treinamento? Três ou quatro metros quadrados, uma hora do seu dia, paciência e disciplina é tudo o que você precisa, sem contar que existe um mundo inteiro aí fora pra você percorrer caminhando ou correndo.


Por que não?


Os atributos que citarei à seguir tratam-se dos que deixei escapar, por muito tempo, e que poderiam me beneficiar, tanto em termos de longevidade quanto de não atingir o famoso OverTraining [http://www.scf.unifesp.br/artigos/overtraining_carol.htm], o que me atingiu, por várias vezes, como uma locomotiva nos momentos que treinei durante um dia inteiro. Imagino que ser um atleta olímpico não seja seu objetivo (também não é o meu), por isso, vou encurtar a conversa mole e ir ao que interessa.


1. Paciência e Disciplina: Ingredientes do Ritmo


Quantas vezes você tentou correr com seus amigos (ou mesmo sozinho) e não coseguiu criar uma rotina de treino por conta das dores ou da falta de ar que o assolava enquanto se exercitava? Vou lhe dizer algo que talvez já saiba: No pain no gain, amigão. Se existisse desenvolvimento físico sem dor, sem exaustão ou sem ficar sedento por água, todos seríamos belíssimos manequins, saradões e vazios.


Os estímulos de dor e exaustão, por exemplo, quando bem canalizados e suportados, fomentam o desenvolvimento de certos adjetivos importantíssimos na gênese do ritmo.


1.1 Paciência


Talvez a característica mais importante, por ser base sólida de todo o aprendizado, é a mais demorada a se lapidar. A paciência (e não estou falando daquele joguinho que vem no Windows) vem com o tempo e a experiência.


Confesso que nem sempre fui determinado. Costumava deixar as coisas pra depois e acabava sempre me atrasando, prejudicando a tarefa que tinha me proposto a fazer. Então passei a refletir sobre essa falta de determinação e acabei concluindo que era, basicamente, impaciência, simples assim. Sou um cara perfeccionista e imediatista, e essas características apenas prejudicam quando não são bem canalizadas. Se seu nome não for Marty Mcfly, eu aconselho ter paciência e saber lidar com o tempo que tem.


"Quero ser paciente agora!"


Quando disse isso pra mim, não prestei atenção na asneira paradoxal, mas valeu de estímulo pra começar a praticar. Não há como fugir disso. Ser paciente é um trabalho paulatino, que deve se tornar um exercício diário em toda as esferas da nossa vida, das menos às mais relevantes coisas e assuntos. É compreender que nem tudo está submetido à nossa vontade e que precisamos (mesmo que não queiramos) aceitar o tempo de cada coisa, em cada lugar. Tudo em seu tempo.


1.2 Disciplina


Não adianta ser o cara mais paciente do mundo se você é desorganizado e acha que tudo vai cair do céu. Como diria Stallone: "(...)o mundo não é feito de dias ensolarados e arco-íris (...)". E não é mesmo, a não ser que você seja um teletubbie.


Ter disciplina não é sair pra correr de qualquer jeito, ir pra barra querendo intortá-la de raiva ou fazer umas flexões sem ter algo no estômago. Ter disciplina se trata de respeito com a atividade proposta e consigo mesmo; agendar os dias e horários; pré-definir as atividades. Enfim, é ser organizado e se respeitar, antes, durante e depois, o que implica em perceber seus limites sem negligencia-los.


2. Limites


Em conversas com amigos e conhecidos, a maior dificuldade que eles apresentam se resume no quão difícil é o exercício, o que, ao meu ver, é um obstáculo facilmente transponível. Por quê? Ora, porque o que é difícil pra você, talvez não seja pra mim, e vice-versa. Nivelar-se pelo limite alheio é o grande problema, e acaba sendo uma das razões pela qual a "corridinha entre amigos" nunca vingar.


"Tal é para mim como é para mim. Tal é para ti como é para ti."

- Protágoras


Se você é daqueles que usa seu condicionamento físico (ou a falta dele) como desculpa pra se manter sentado nessa cadeira diariamente, como se fosse um eterno CEO [http://pt.wikipedia.org/wiki/Diretor_executivo] do seu quarto, esse é o momento de mudar. Não vejo, nem nunca vi, problema com os gordinhos saírem do estado de ociosidade. Na verdade, alguns já até se interessaram em participar dos meus treinos depois de algumas conversas sobre limitação. O problema, como havíamos observado, é a falta de auto-conhecimento. Todos podemos fazer de tudo um pouco, mas em níveis diferentes, basta termos bom-senso e ritmo.


Há de considerar, então, que o naturalizado passou pelo processo de mecanização, ou seja, derivou de uma certa intenção e, após o período de adaptação, foi incorporado ao indivíduo como algo natural. Eu adoro usar o exemplo do caminhar, pro pessoal ocioso-pessimista. Hoje em dia, não vemos mistério algum nesse exercício corriqueiro. Mas não se engane, nem sempre foi assim. Um bom exemplo são as crianças. Elas nos dão uma verdadeira lição, e eu, particularmente, as considero mestres em ritmo, pois diariamente, quando estão aprendendo a andar, tentam, com afinco, nem sempre respeitando suas limitações, mas procurando dar um passo de cada vez, tornando aquele trabalho (difícil pra caçapa) em algo natural, como é o nosso caminhar hoje em dia.


Nascemos com todas as desculpas do mundo para não nos tornarmos quem somos hoje.


Agora imagine você, sem equilíbrio, força e orientações de como fazer o que se propôs a fazer. Difícil, né? Como pudemos esquecer que fomos capazes de caminhar com poucos meses de vida sem auxílio algum, nem condições físicas adequadas, e hoje não conseguimos levantar nossa bunda da cadeira e fazer algo que preste, de fato, pro nosso corpo?


As vezes esquecemos que o que nos faz pessoas melhores é progredir em nossas próprias dificuldades.

Um comentário:

  1. Adorei ler esse texto. Especialmente na fase em que estou passando onde meu universo gira em torno de parkour, kung fu, academia, faculdade e trabalho.

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