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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Esteja SEGURO!

Não se trata mais da altura ou distância que se salta. Medidas, recordes, não fazem parte do que realmente importa pra mim. Não mais. No momento em que preciso de determinadas habilidades, recorro somente a uma única coisa: Segurança.

Lembro de um salto
que fiz enquanto estive em Brasília (foto ao lado)
que me fez pensar BASTANTE sobre como eu estava conduzindo meus exercícios, meus treinos. Bem, não faço ideia da altura (talvez 4m ou 5m) nem da distância (de onde eu pretendia sair, para onde eu pretendia chegar), mas sei que a altura me causava vertigens e a distância era algo que me deixava com várias dúvidas.

O salto foi cogitado pelo meu grande amigo Mauricio Roboredo, no segundo dia do Partour Brasilia (19/06/2009), o qual mencionou a descoberta de um outro rapaz e amigo, Filipi "Polônia" Luiz Trajano. Fiquei excitado com o que contaram sobre o salto, então decidi averiguar.

Fiquei, no mínimo, estarrecido/embasbacado/extasiado/empolgado/excitado/motivado com o que vi. Filipi dizia "esse é meu sonho de consumo!", naquele momento eu entendi o por quê. Pulei a cerca que divide o jardim interno da área onde estávamos do local do salto. Senti, instantaneamente, minhas mãos começarem a transpirar e meus pensamentos acelerarem em inúmeras auto-projeções executando de várias maneiras o salto que estava a minha frente. Fui obrigado a me sentar na marquise, já que a vertigem, por ficar de pé na borda a fim de observar melhor o salto, não me deixou escolha. Passei alguns longos 5 ou 7 minutos sentado ali, não sei ao certo. Pensava, entre várias outras coisas, que se eu não fizesse, talvez nunca chegasse a fazê-lo, "a árvore está viva, cara, da próxima vez que vier aqui o salto será impraticável!" eu dizia pra mim mesmo, tentanto de forma deprimente algum tipo de encorajamento.


PAUSA.


Algumas semanas antes de ver o salto falado a cima, do comentário do Mauricio ou mesmo do Partour, estava eu, no parquinho da 303 sul (durante a tarde), trainando saltos de precisão com Breno Metre (um irmão a quem responsabilizo como coadjuvante por muitas das maiores e mais valiosas lições de vida que já tive) e um outro amigo e irmão, tão valioso quanto, Mauricio Roboredo.

Lá existem várias coisas que fazem meus olhos brilharem. Coisas simples, do jeito que eu gosto. Entre tantas, um salto que ainda não tinha feito, de uma plataforma vazada cilíndrica, feita de tubos multicolores, para uma plataforma cimentada, com uma distância consideravelmente boa (foto ao lado).
Bem, a primeira vez em que me propus a realizar o movimento, pedi o auxílio de meus companheiros, mais precisamente do Breno. Realizei o salto sem muitas dificuldades, apesar da apreensão que prenunciava um possível acidente, tudo correu bem.
Nos dias que se seguiram, treinei bastante o salto. Me senti seguro a partir do segundo, pra dizer a verdade, depois foi apenas repetir e diminuir cada vez mais o "momento lúcido" que precede o salto. Chamo de momento lúcido pois é o momento que mais racionalizamos (e que ao mesmo tempo nos enchemos de temores/medos, o que acaba sendo contraditório), medimos mentalmente, nos precavemos, executamos mil vezes o que estamos prestes a fazer, só que em nossa mente. E em uma semana, depois de passar tardes treinando, depois de ter repetido o que considerei o suficiente, eu subia e fazia o salto, sem problemas, tranquilo. Já não pensava como antes, estava seguro.


DESPAUSA.


Comecei a frequentar o local do salto como se namorasse com ele. Fui poucas vezes na verdade, mas das vezes que fui, o tempo se alargava, e lá eu ia, repetir mentalmente o que queria realizar. Imaginei várias coisas, dentre elas, ir para onde não gostaria de ir, para o chão. Esse era meu pior medo. Não conseguia imaginar o que poderia acontecer comigo despencando daquela altura, mas sabia que ossos se quebrariam, NA MELHOR DAS HIPÓTESES. Em momento algum eu parei e pensei: "pra que me arriscar tanto?". Eu sabia que não tinha melhor maneira de ir para aquela árvore se não por ali. Aquele era o caminho mais rápido e nunca ninguém havia feito aquela trajetória antes, nem mesmo pra me dizer que tipo de sensação era.

Mas em algum momento das vezes que fui, lembrei dos treinos na pracinha da 303 sul. Ao observar o salto com mais atenção, conseguia ver uma enorme semelhança em suas dimensões, que eram teoricamente as mesmas, mas suas variantes não eram muito encorajadoras.

O ponto de saida é perfeito, uma pedra de granito (ou concreto bem plano e não escorregadio, não lembro ao certo), e as boas notícias terminam ai. A trajetória é a distância apontada pela foto, no início do tópico, e a altura também é notável. O ponto de chegada é até menos animador que qualquer outro salto para uma árvore já feito por mim, em meus poucos anos de treino. Nunca tinha passado por uma situação como aquela. Não naquelas dimensões.

O ponto de chegada do salto é um absurdo pra quem pára e analisa a primeira instância, apesar de que para meus amigos, Maurício e Polônia, a chegara é perfeita. A princípio, procurei pensar como eles até como mecanismo motivacional, mas também não funcionou muito bem, tal como pensar que a árvore continua a crescer. Uma vertente do tronco (algo que eu não ousaria chamar ainda de galho), tão grosso quanto algumas das árvores das proximidades, e uma base plana com o diâmetro um pouco maior que uma bola de tênis, onde um galho havia sido cortado, fazem parte da área que utilizei para finalizar o salto. Ao menos tentar finalizar.

Após alguns dias dizendo para o Murício que era possível e que eu iria executar o salto em breve, aproveitava para me lembrar que a integridade que estava em risco era a minha e utilizava a seriedade que estava lidando com aquela situação para treinar o salto com as dimensões mais próximas daquele que executaria, no caso, o salto da 303 sul.

Treinei durante alguns dias na 303 como se não houvesse chão. Em um certo domingo, eu e Maurício marcamos de nos encontrar e treinar no setor comercial sul. Acabei conhecendo um rapaz muito boa gente chamado Guilherme, o qual nos fez companhia durante todo o dia. Após uma manhã de treino com os rapazes, e já com o corpo quente, decidi enfrentar mais uma vez o salto e saber se o chão havia se aproximado. Ilusão. Ele continuava lá, tão distante quanto antes.
Os guardas do local não permitiram que eu me posicionasse do lado de fora da cerca, pois era perigoso. Retornei a parte de dentro. A essa altura, eu já tinha pedido para os rapazes descerem. Mauricio se posicionou para registrar o momento e o Guilherme, a pedido meu, ficou logo abaixo do trajeto do salto, afim de me prestar socorro e/ou evitar qualquer lesão grave no caso de alguma fatalidade e/ou possível queda abrupta.

Naquele momento eu estava tenso, queria que tudo terminasse logo e que eu conseguisse realizar o salto. A excitação do momento fazia minhas mãos suar e meu coração acelerar. Pra liberar a adrenalina eu pulava no mesmo lugar, batia as palmas da mão com força para "acordar" e ficar atento. É incrível o quando o mundo parece opressivo quando nos colocamos a prova. Nenhum lugar é confortável. Mas eu descobri um naquele instante.

Eu não precisava olhar ao redor, não era ao redor o lugar para onde eu ia. Não era para o chão nem para as mãos do Guilherme, lá em baixo. Eu tinha um objetivo, e era chegar onde eu tinha treinado pra chegar. Já tinha feito aquele salto muitas vezes, apenas não era tão distante do chão assim, mas não era o chão que importava naquele momento. Foi quando me dei conta de que eu estava seguro, eu tinha as ferramentas pra concluir o trajeto sem me causar danos.

Dei o sinal para o Maurício, pulei a cerca e foi o tempo de por os pés na borda da marquise, olhar o lugar e ir. Foi uma sensação nova, devo confessar. O salto em si foi uma experiência nova. O tempo parecia andar mais devagar e justamente por isso tive tempo de alterar e concertar o lugar onde eu deveria por os pés para frear o salto. Infelizmente não correu tudo tão bem como o esperado. Nesse dia aprendi que as árvores descascam da forma mais dolorosa possível.

No momento em que toquei com os pés na árvore, o pé direito o qual direcionei a base onde o galho havia sido cortado, freou instantaneamente, o que me possibilitou ser instintivo e me proteger sem perder meu único ponto de apoio. Tive que improvisar, já que no instante em que cheguei e toquei na árvore, meu pé esquerdo descascou toda a parte em que tocou, torcendo-o de forma agressiva. A inércia me manteve em velocidade e tive que me segurar da forma que pude pra não cair dali. Foi um breve momento de "agora eu preciso me salvar" e fui puramente instintivo. Me segurei como pude, da forma que dava. Cheguei. Consegui.

Meu pé esquerdo começou a doer muito, assim que eu parei. Ainda em cima da árvore eu aguardei alguns instantes e desci, sem maiores dificuldades. Havia torcido o tornozelo como nunca antes. Foi a torção mais forte que eu já consegui. Inchou com uma velocidade surpreendente, mas hoje já estou bem. Enfim, aprendi muito com tudo isso.

Hoje não me importam mais distâncias ou alturas, elas não são mais o foco. Perdi a fluência também, e quer saber? No fundo não é isso que eu busco. Parece que estou voltando ao início... de novo, em busca da minha busca. Experienciando da forma mais incisiva o que cada momento tem a me oferecer, o que cada movimento me ajuda a expressar.

A segurança que eu tenho nos movimentos que eu sei que consigo executar fazem parte do que chamo de medidas imensuráveis. São medidas muito particulares que só com a repetição nos tornamos íntimos. Medidas que fazem parte de cada movimento executado, sejam explosões com os braços e pernas, seja o período em que passamos repetindo determinado movimento, seja a distância que conseguimos saltar com corpo frio ou quente. São aquelas medidas invisíveis que vemos quando queremos. Distâncias, impulso, força.

Nisso eu tenho segurança.

2 comentários:

  1. Eu voto nessa postagem como uma das melhores que você já fez no blog desde sua criação. E agora, mal-educadamente, eu tomo o espaço para que meus dedos escrevam com sinceridade um misto de "depoimento/desabafo":

    Fico muito feliz com sua nova descoberta e postura. O Brasil tornou-se um berço de monstros e Brasília um de seus mais ricos berçarios. Porém, o ano de 2009 me apresentou um parkour brasileiro que até então eu desconhecia. Esse que mencionou acima: o do mais alto, o do mais longe, o do mais incrivel.

    A mídia mundial evoluiu muito. O "parkour" simples e feijão com arroz que antes era a nós apresentados, não mais agrada aos olhos dos espectadores. E agora não colocando Brasilia no olho do furacão (mas tambem não os excluindo), eu notei que muito do que vi no Brasil esse ano, se rendeu a esse presente de "mais alto, mais longe, mais incrivel".

    Eu não gosto dele. Opinião puramente pessoal. Minha estadia no Partour não foi agradável. Não gostei do evento. Não sei se porque deixei escapar o clima correto de treino entre os dedos, se foi porque estava desatento, mas não me senti a vontade em um ambiente onde o que importava para todos era (novamente, e me desculpe pela repetição) "o mais alto, o mais longe e o mais incrivel".

    Tomara que seja uma fase. Tomara que todos acordem. Ou tomara que eu tenha tido a impressão errada. Mas caso não seja, aprendamos então a jogar com as peças que recebemos. :)

    Não me contentaria de topificar os pontos fortes de minha movimentação e nem de mesurar minhas distancias. Treino com foco de ser mais instintivo e natural. Os resultados irão aparecer é claro. E eles irão impressionar a muitos. Pórem, eu quero estar seguro de que isso será uma consequencia... e não o meu objetivo.

    Desculpa. Sei que tenho o meu blog.
    2010 nos aguarda! E eu quero te ver nele.

    Abração.

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