Hoje cedo na praça, enquanto me exercitava, observava um grupo de trabalhadores da prefeitura fazendo uma tarefa que, acredito eu, todos os leitores do blog reconheçam. Eles estavam cortando a grama com uma roçadeira (aquelas máquinas longas, com um motor em uma extremidade e na outra um fio de nylon, o qual, girando com velocidade, corta a grama). Mas não foi a tarefa em si que me chamou a atenção, mas a movimentação do quadril dos trabalhadores, girando de um lado ao outro, e os passos sem ritmo e sem direção. A falta de direção, sentido, ritmo, aquela coisa tão amórfica, me fez lembrar dos momentos em que meu filho estava aprendendo a andar.
Considero, hoje em dia, o ato de andar/caminhar a tarefa/atividade mais difícil, em termos de aprendizado, que um ser humano pode desenvolver, e apesar disso, estamos aqui, nos movemos sem nem mesmo nos dar conta de tal dificuldade. Isso é naturalidade.
Mas nem sempre foi assim tão natural. O início é inevitavelmente tendencioso aos erros. Não temos guia ou alguém com quem trocar informação ou pedir conselhos de como começar. Não existe uma apostila "Meus primeiros passos", a qual, seguindo a risca, o sucesso é garantido. Não existe noção alguma sobre equilíbrio, força ou qualquer teoria que ajude, de alguma forma, a desenvolver algum movimento, seja ele qual for, em prol do tão almejado "andar naturalmente".
A observação é a única e melhor ferramenta que se possui, quando não se tem nada além disso. Lembro bem de quando meu filho, ainda sem nem mesmo andar, me observava brincando na cama e/ou andando em volta dele. Em pouco tempo os primeiros movimentos autónomos no sentido de locomoção (me refiro ao rolar e engatinhar) começaram a tomar forma. A prática era constante, como se ele quisesse se livrar das rédeas que o prendia a mim ou a qualquer outra pessoa que se sentisse no dever de carrega-lo pelo fato de ainda não saber se mover sozinho. A vontade era imensa, mas isso não bastava para que ele caminhasse sozinho.
Ainda sem força nas pernas nem equilíbrio, não houve momento em que vi desânimo ou falta vontade em tentar, mesmo que sozinho e caindo repetidas vezes. As tentativas e os incontáveis erros se arrastaram, juntamente com meu, até então, desajeitado filho. Hoje em dia, com 3 anos de idade, ele caminha, corre e até esboça alguns saltos, mas o aprendizado não veio em um dia ou um mês, nem mesmo um ano.
Apesar da capacidade de aprender, aprimorar e transmitir novas e/ou já conhecidas atividades, ser inerente ao ser humano, a paciência não é. Essa é uma habilidade que procuro desenvolver constantemente com minha família e trabalho, e algo que primo por transmitir.
Vivemos em um mundo repleto de possibilidades, os universos das coisas, as quais aqui, vou me limitar a comparar com pequenas piscinas que, ao mergulhar, conseguimos retirar algo. Esse "algo" podem ser momentos de alegria, momentos de tristeza, fama, prazer, dor, enfim. Com um pouco de paciência e dedicação, conseguimos ir mais fundo e ver o que as profundezas tem a nos oferecer, pois para chegar lá, onde a luz do exterior já não alcança, demanda bastante tempo, energia e muito fôlego.
Meu filho mergulhou na piscina do caminhar. Retirou de lá lições como equilíbrio, e hoje sabe que é fundamental utilizar a compensação do peso para se manter andando. Sabe também que a dor é passageira, mas a lição é para a vida (mesmo que a noção que tenha disso seja apenas instintiva). Eu também mergulhei nessa piscina com ele, e pude aprender que apesar da diversão, dos momentos de alegria proporcionados pelo "caminhar", dos momentos de reflexão por conta dos erros, etc, o que mais me chamou a atenção dessa vez é que, independente da piscina que se mergulhe, porquê se mergulhe, ou a que profundidade se vá, sempre há algo a se retirar/sentir/aprender.
Independente do que se faz na vida, do porquê se faz, ou mesmo por quanto tempo faz, apenas faça. Pois viver é fazer, é agir, é pôr a mão na massa, mas minha proposta, com Duddu e Edi, de ver quem faz, com 70 anos de idade, 10 planches seguidos, continua de pé! Então continuemos nadando profundeza a dentro, amigos.
Um abraço.